4 de abril de 2012

Considerações à Francesinha de Vidro


Considerações à Francesinha de Vidro


I

Aos Anjos

Anjos, desistirdes!
Que este vagar já é sem cura.
Este vagar de olhares, Anjos, d’um tipo à toa
Que pela ausência de nossos instantes há muito voa
Desistirdes, Anjos, que já é eterno!

Evaporardes, Anjos!
Ao corpo dela que de vidro se insinua.
Nem a algazarra do coito arrancou-lhe fulgores,
Tampouco a evocação de tantos mil amores,
Evaporardes, Anjos, que sua tristeza é crua!

Anjos, fitai!
Sob a alva alfombra de meus lençóis.
A morbidez de sua retina, Anjos, que tremula disfarçada,
Sob as opacas Iris que se postam alucinadas,
Fitai, Anjos, que estão tão sós!


II

Ao corpo

Corpo ladrão, corpo assassino!
Dos mais lânguidos cálices tomou as curvas,
Das mais simétricas ninfas, o molde divino!

Corpo de talentos, corpo de ironias
Cujo dom de expressar a mais pura beleza
Na mais pétrea letargia...

Em teu corpo fechado, teu corpo de vidro
De seios fartos que resplandecem nus.
Duas luas de leite que me amamentam o espírito
Sua carne que inspira-me às trevas e à luz!

Ó corpo francês, ó corpo Eiffel!
Que males da alma deixaram-te assim?
Se expressas à pele a mais pura beleza,
Por que é a sua pele tão fria a mim?

Corpo de experiências, corpo de eternidades
Resumido em estaturas frágeis
E delicadas...
Teu corpo de vidro, sensível a qualquer
Das ínfimas desgraças!


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