Das Friedhoflied

Das Friedhoflied

Atrás de minha casa há um cemitério

Um bosque silente de pedras tortas.

Há um portão colossal, fundido em ferro

Há um coveiro do mal, de semblante sério

E uma multidão de crianças correndo mortas;

No cemitério morava um pequeno anjo

Que nos dias de chuva sempre aparecia.

E ficava sentado num banco santo

Sussurrando lento um triste canto

Que da minha trôpega casa, eu ouvia;

A melancolia do anjo era a chuva de outono

E a sombra das crianças compunha sua cria.

Cheguei por um momento a pensar que era a morte,

Mas não era, por fim, e por que sorte,

Pois a morte é sóbria, e o anjo sorria.

Já ousei pensar também que era menina

O anjo melancólico que me fitava a cantar.

Mas eu amava o anjo de forma tão santa

Que só conseguiria amar assim uma criança

Se essa menina fosse um mito a desvendar;

E então chegou o tempo, ladrão de infâncias

E aos poucos eu vi, triste, a chuva parar.

E um a um, vi pessoas morrerem

E de amados nomes, as lápides se encherem

Sem ter o doce canto, ou o anjo a consolar;

É hoje o portão muito menor. Menos grandioso,

É hoje a floresta de lápides um retrato: solidão.

Mas quando lembro o só, lindo anjo loiro,

Quando lembro os amigos mortos e inimigos soltos,

Vem-me a boca várias lágrimas

E a letra de uma canção...