7 de agosto de 2012

Quando a neve derrete


Quando a neve derrete...

“A Marllon França, porque
Ele me entende.”

Aceita, distante amigo, o verso
Aceita o verbo e a ignóbil rima, a mensagem
Que repousa inerte o papel amargo.
Aceita o poema, dá-lhe um trago,
E da álgida função morfológica
Da palavra, inócua e solitária, extrai
Sorve o sentido extasiante
De minha poesia oculta...

Pois são estas as últimas linhas, amigo,
De um amador. As últimas estrofes minhas
Que ciscam o chão: infantis, ásperas,
Galinhas.
Por isso aceita, amigo, o poema.
Em toda sua flacidez, em toda sua ausência,
Ainda assim, é poema, e por isso, talvez,
Mereça ser amado.

Eu morro.
Desfaleço.
O punhal é a língua do ordinário
E a morte é ventura que me alteia
Aos céus. Ergo-me, limo a nobreza
Na indecência de meus próximos versos.
Versos estes, talvez, já não tão meus como este
Que agora vos transcrevo, ainda inocente.

Imagino tua face magra, teu corpo
Magro, de tato etéreo.
Não te conheço.
Não teu corpo, ao menos, nem a cor da sua tez
Que imagino pálida, o gelo de sua dor
Que imagino sórdido, ou a tua força, teu músculo,
Se fazendo inócuo em meu pensar.
Conheço sua escrita. Esta sim, eu relevo.
Sua poesia que soergues ao céu, como pipa,
Como uma criança levada,
Como eu.

Por isso te peço, amigo distante, convido-te
A morrer. Morres comigo?
Morremos! Ateemos fogo a estas almas terrenas!
Feito Jesus, a banhar-se com o próprio sangue pelos homens,
Banhemo-nos com a própria morte
Pelo renascimento da alma!

Convido-te, risonho, enlouquecido
A pular na roda, e tu entras.
Devaneio tua entrada voluptuosa,
Tua queda iminente, tua metamorfose
A girar e rodar pela ciranda da poesia,
Como gira e roda um menino, travesso,
Sem temer a queda óbvia, sem cair.

Esquece a neve, amigo distante, que agora derrete
E mareja em teu colo salgado.
Esta neve beata que congelou tuas lágrimas,
Esta alvura imaculada que te preencheu um ano
E depois te esvaziou um ano,
Por que deixaste ela ir. Esquece
Tua fraqueza demente
Que na alma te abre ferida, ardente,
E na roda te faria cair.

Quando a neve derrete, amigo, e vês em compasso louco
Um ano escorrer pelas frestas dos teus dedos trêmulos,
Eu te convido. Tempo e poesia são como um par.
Como um par, que se atrapalha ao descompasso do outro,
Como a vida que é ignota de qualquer piedade,
Como a vida que nos nega qualquer tempo
Além do tempo da nossa morte.
Eu te peço, te chamo, clamo
Que conquiste o céu comigo.

E que na alvura e na alegria das nuvens mais gordas,
Escrevamos nossos poemas de riqueza renascida;

Fiquemos de bruços, olhemos para baixo e sorrirmos,
Porque estamos mais altos do que qualquer um.

Lucas de F.R. Altmicks, 7 de Agoste de 2012

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Muito obrigado por comentar! Você não tem ideia do quanto está contribuindo para o nosso trabalho e do quanto estamos gratos! Mas por favor, comentários construtivos!