10 de setembro de 2012

A Valsa


A valsa

Ré menor, mi, lá menor
Imagine então os copos.
Dois, onde desliza o conhaque
E o gelo valsando o redemoinho.

Dois para frente, dois para trás...
Imagine um salão, vê
A penumbra que semi-esconde
Os corpos escorregadios.

Sente à pele, fluxo indeterminado
Sorve à língua a música que se assemelha.
Vê as notas furtarem sonhos dos pares
Como furtaram da moça um suspiro.

Imagina agora os dois, mestres do copo
Elegância, altivez em seu terno
Suavidade em seu vestido, cetim.

Mais um gole... Ah sim,
O deleite de se apreciar o néctar,
E como se impelido por uma nota,
Um beijo melódico, valsa!

Valsa...

É reta, a música, como o tempo
É reta, à medida exata de seu compasso.
Inevitável se faz que as notas venham à morte,
Inexorável se faz que se surjam outras notas
Iguais.

Notas antigas, tal qual o melancólico
Dó sustenido à sétima,
Na sétima janela de uma casa:
O bemol acordiano do silêncio
Que se faz.

Uma velhice afinada em lá menor
Sem violinos, sem celos, sem nada.
Que se diga que vai morrendo aos bocados
O ritmo que agora se engasga.

Vê o velho cifrando o vidro, desdobra
A partitura das canções antigas.
O deslize do sol sustenido, e por fim
A transfiguração da valsa em vida.

Quando então, sorver o sorriso
Acima do drink, do som, do nada...
Pois eis que surge com o vento que arrebata
(Sem que seja o vento em nada especial),
O tímido som, em três tempos
Ré menor, mi, lá menor.
Dois p’ra lá... dois p’ra cá...

E os dois, já velhos, hão de lembrar a valsa
E assobiarão, feito musica, a vida que lhes pôs
Um do outro,
À parte.








   


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