10 de abril de 2013

Dia 1

   Quem somos nós quando escrevemos? As ideias que saem de nossas mãos nunca são iguais às que permeiam nossa cuca. A forma como verbalizamos elas nunca é igual a quando cumprimentamos o nosso vizinho, ou o nosso colega de classe ou trabalho, ou quem quer que seja. Que voz é essa, então, que sai de nós, mas que nos é tão estranha?

   Essa questão é, atualmente, a que mais me atormenta. Tenho um amigo que diz não acreditar que o Lucas que ele vê é o mesmo Lucas que escreve. E, para dizer a verdade, nem eu mesmo acredito. Em busca de um estilo original de escrita, de um modo mais prático e fácil de pôr as ideias no papel, eu tento a cada frase definir quem é o meu verdadeiro eu-lírico - mas nunca o encontro.

   Meu ideal seria escrever com a minha parte mais profunda. É difícil explicar o que é essa parte. Seria, provavelmente, o que nós chamamos de alma. Porém, por mais que tente, nunca consigo encontrar a voz dessa minha alma. Tudo o que sai é uma voz inventada, copiada, presunçosa. Meu ideal seria descrever, de forma simples, o mundo como ele me parece - mas eu nunca consigo.

   Talvez, eu penso, a alma não tenha voz. Talvez seja impossível descrever com exatidão essa nossa parte mais etérea, talvez ela seja realmente intraduzível. E então, a única forma de escrevê-la seria através do silêncio. Seria através das coisas que não dizemos no texto. E por isso, talvez, seja melhor eu acabar aqui e silenciar o resto.

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