11 de abril de 2013

Dia 2

   Todo mundo já teve, ao menos uma vez na vida, de subir uma ladeira longa demais.

   Eu assim o fiz todo dia, durante um bom tempo, literalmente.

   Descia do ônibus, com a mochila pesada nas costas, roupa suja e cabelo bagunçado, e encarava com sofreguidão os meus próximos 1200 passos. Sim, eu já contei o número de passos do ponto até a minha casa. São aproximadamente 1200, cerca de 0,6 quilômetros, muito provavelmente mais. Assim, todo dia, ao voltar da escola de ônibus, eu tinha que subir essa estrada tortuosa, sob o calor infernal de uma cidade sem sombras. A coisa piorou quando começaram as reformas ali nos Dois Leões, e o ônibus passou a soltar os passageiros dois pontos mais tarde do que o usual.

   Além disso, havia o canteiro de obras poeirento que melava meus sapatos e jogava areia nos meus olhos sempre que passava. Havia também os pedreiros, lançando suas cantadas baixas sobre mulheres mais baixas ainda. Houve também os dois meninos que me abordaram, um dia, e não levaram nada. Havia muitas coisas que tornavam essa ladeira ainda mais tortuosa e insuportável; mas tratava-se sobretudo do calor e da distância.

   A questão é que, às vezes, eu me desesperava. Estava tão cansado, ou tão entediado, que achava que não iria conseguir subir a ladeira inteira. Eu achava que o caminho era longo demais, e que nunca iria ter fim. A coisa piorava quando abatia-me uma forte dor de barriga, por causa da minha recém-descoberta fraqueza intestinal, e a dor me levava ao fundo do poço. Era o pânico. Você fica atordoado, sem tino nem mesmo para sentir a dor que te aflige. E aí, eu olhava para frente, e havia mais 1200 quilômetros para percorrer. Iria eu aguentar até o portão rosa de minha casa? Valia a pena tentar?

   Só uma coisa me salvava nesses momentos de verdadeira angústia e tensão: os meus pés. Por mais que a barriga me doesse, por mais que o cansaço me torturasse os joelhos, ou por mais irritado que eu estivesse, eu nunca parava de andar. "Tudo se resume a pôr um pé depois do outro", eu pensava, "de forma mecânica  e industrial, sem nunca parar". Assim, doendo-me ou não, cansado ou não, uma hora eu sempre chegava em casa. E agora, olhem para mim, estou aqui, no meu quarto, sentado na frente do meu computador, com os olhos quedando de sono, logo, eu realmente consegui chegar.

   O que eu quero dizer é: sempre ponham um pé depois do outro em qualquer ladeira longa. Por mais que pareça infinita, se você não parar, uma hora conseguirá chegar ao seu destino. Já se você parar, por outro lado, esqueça: está tudo perdido. Vale lembrar, também, que por mais que você pareça cansado e perdido, se você continuar colocando um pé depois do outro, um dia estará aqui, como eu, na frente do seu computador, gozando de paz e tranquilidade. Por isso, lembre-se: um pé depois do outro, sempre, e é só isso o que você precisa fazer.

  

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